quarta-feira, 26 de outubro de 2011


A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me concontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
                                     
                                  (Vinícus de Moraes)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ciliares celestes



é sobretudo o limite do tempo que dilacera
vosso estado de coisas, vossa comunhão
com o corpo. sobretudo o silêncio da retina
que despe-te dos cílios, das águas e fuligens
que encantam tua vida, amálgama e céu;
e esse episódio colorido construído em síntese
hermética dá o sentido exato de vosso coração.

                                                    (Fernando Marini)

domingo, 23 de outubro de 2011

Ensaio


Em instantes meu mundo caiu,
e não há o que fazer, não há como voltar,
olhar pra trás e encontrar um motivo pra recomeçar.
Não há mais nada.

Se foram os dias,
As músicas,
As noites,
As filosofias que me frustraram,
As pessoas,

Se foi a credibilidade da diferença,
A sutileza única,
A imagem bela de um ser perfeito.
Se foi,
Se foi tudo.
Se foi a esperança que me guiava pros seus braços,
Se foi a dor de esperar,
Se foi aquela curiosidade.

Veio a descoberta,
A tristeza,
A desilusão,
A falta de expectativas,
O fim.

Quem sabe agora será um novo começo,
O começo verdadeiro, sem hipocrisia,
Sem mentiras,
O primeiro começo.

Antes foi um ensaio pras magoas,
Agora um ensaio rumo à realização.
Percebo que estou distante de todos, de tudo,
Acho que não moro mais aqui,
Acho que não pertenço mais ao espaço dos desesperados.

Agora, o que me resta é esperar,
Aguardar, com paciência,
O que virá...
O que virá?
E se vier?
Estarei aqui...
Morrerei aqui.
Esperaaaaando.

(M. Oliveira)


Onde é que eu fui parar
Aonde é esse aqui
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe…
Tão longe…
Onde é esse lugar
Aonde está você
Não pega celular
E a Terra está tão longe…
Tão longe…
Não passa um carro sequer
Todo comércio fechou
Não tem satélite algum transmitindo notícias de onde eu estou
Nenhum e-mail chegou
Nem o correio virá
E eu entre quatro paredes, sem porta ou janela pro tempo passar
Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado no vácuo de um quarto no espaço sem fim
Aonde está você
Por que é que você foi
Não quero te esquecer
Mas já fiquei tão longe…
Tão longe…
Não dá mais pra voltar
E eu nem me despedi
Onde é que eu vim parar
Por que eu fiquei tão longe…
Tão longe…